ONU Mulheres avaliam desafio das mães empreendedoras na pandemia Covid-19 e economia no país

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Com objetivo de auxiliar mulheres mães, empreendedoras de negócios formais e informais, e diferentes setores econômicos no Brasil no processo de recuperação de negócios impactados pela pandemia Covid-19, a ONU Mulheres fez levantamento e cartilha sobre os efeitos da pandemia nos empreendimentos geridos por mulheres. O material pode ser útil para a atuação prática de empresas que desejam apoiar o empreendedorismo de mulheres e apoiar suas colaboradoras na construção de ambientes de trabalho mais equitativos, em especial as mães.

Para elaboração da cartilha foi realizada uma pesquisa orgânica, compartilhada em grupos e listas de empreendedorismo materno que levantou o impacto da pandemia nos negócios e rotina de mães empreendedoras com filhos e filhas de até 12 anos. Adicionalmente também foram levantados outros estudos e pesquisas, dados secundários relevantes para compor as análises.

Dentre outras consequências, a pandemia tirou sete milhões de mulheres do mercado de trabalho, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua).

O levantamento da ONU Mulheres apontou que, no mercado, a participação de mulheres com filhos e filhas de até dez anos caiu de 58,3%, no segundo trimestre de 2019, para 50,6% no segundo trimestre de 2020.

Segundo relatório especial da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), houve um retrocesso de mais de uma década em avanços na participação feminina no mercado de trabalho na América Latina e no Caribe.

Com o fechamento de escolas e creches, as mães ficaram sem redes de apoio de cuidado com os filhos e filhas e, com isso, perderam condições de se dedicar às suas atividades econômicas. Este quadro impactou renda, independência financeira, aumentando a demanda de trabalho de cuidado e criando uma espiral de sobrecarga mental, física e emocional.

Com o aumento da vacinação e uma perspectiva de retomada econômica é urgente que as empresas, governos e sociedade priorizem a proteção e inclusão de mães nas atividades produtivas, levando em consideração todo o desgaste emocional que esse período trouxe. O esgotamento emocional das mães traz consequências para toda a sociedade, gerando sofrimento não apenas para elas como para todo o núcleo familiar e impactando a saúde emocional e o desenvolvimento de toda uma geração de crianças.

Mudanças na rotina familiar – Os principais pontos da pesquisa apontaram para empreendedoras mães à deriva, com o desafio de empreender com filhos e filhas sem escolas e creches.

A sobrecarga que o acúmulo de atividades trouxe foi a principal queixa das empreendedoras, superando as dificuldades econômicas pessoais e do país. Pelo menos 63% das empreendedoras relataram o aumento da carga de trabalho como desafio mais significativo, a principal barreira à sua dedicação ao negócio.

Além disso, “aumentou” ou “aumentou muito” para as mães o tempo dedicado às seguintes atividades depois da pandemia: 92% de cuidado com os filhos e filhas, 85% de rotina de cuidado da casa, 74% atividades escolares, 59% atividades do negócio e “diminuiu” ou “diminuiu muito” para 64% das mães o tempo dedicado ao lazer e ao autocuidado.

Ao serem questionadas sobre como acreditam que ser mãe e/ou cuidadora principal de uma criança de até 12 anos incide no desempenho do seu trabalho, o contexto da pandemia fez dobrar a proporção de mulheres que se veem prejudicadas no trabalho, tendo que exercer as tarefas de cuidado.

A vida familiar passou a antagonizar significativamente mais o sucesso profissional, e nesse contexto, é muito preocupante que o cuidado com os filhos e filhas seja visto como causador de prejuízos ao desempenho no negócio.

A qualidade do cuidado familiar, essencial para o crescimento e desenvolvimento das crianças, depende de boas condições psicossociais, sanitárias e econômicas.

Para a representante de ONU Mulheres, Anastasia Divinskaya, “os resultados da pesquisa não são surpreendentes, infelizmente, mas são extremamente relevantes para refletir sobre as ações que podem ser conduzidas para reduzir o gap – aprofundado e agravado pela pandemia da Covid 19 – da desigualdade de gênero, em especial para mulheres mães. A ONU Mulheres está comprometida com o reposicionamento que o papel do cuidado tem na sociedade para que não sejam sempre os mesmos grupos a pagarem o preço mais alto nas crises sociais, econômicas e políticas”.

Recursos para recuperação pós-pandemia – Apenas 29% das mães empreendedoras que responderam à pesquisa concordam totalmente que estão preparadas para continuar empreendendo e só 12% acreditam totalmente que a vida pessoal e profissional está em equilíbrio.

O que as mães empreendedoras precisam é rede de apoio para poderem investir em seus negócios:

– Ter seu trabalho valorizado e assim ter orgulho de ser empreendedora;

– Adquirir conhecimento e melhorar sua relação com o dinheiro;

– Conhecer e ter acesso a crédito;

– Buscar formalização de seus negócios;

– Acesso a formação e capacitação;

– Apoio para digitalização.

Apesar dos desafios, há crescimento no número de programas que financiam empresas comandadas por mulheres, assim como se multiplicam programas de formação, digitalização e aceleração de negócios femininos.

Para que mulheres mães possam acessar e buscar formação, é importante que as redes de apoio se multipliquem reduzindo significativamente a sobrecarga de trabalho que prejudica o tempo que pode ser dedicado ao seu autocuidado e ao trabalho remunerado.

Outro ponto fundamental é a valorização do trabalho e dos negócios de mulheres mães. A atividade empreendedora é importante para o crescimento econômico para redução da pobreza.

A busca de conhecimento e capacitação deve estar sempre na lista de prioridades de toda empreendedora.

Empreendedoras mães precisam ser preparadas para vender e comercializar seus produtos nos ambientes virtuais, mas, antes disso, precisam adquirir conhecimentos fundamentais que são base para o crescimento de qualquer negócio.

Como as empresas podem apoiar – Ações de apoio aos negócios de mães empreendedoras podem vir em três principais frentes:

1) Investimento em formação, capacitação e treinamento diretamente ou através do apoio de iniciativas;

2) Compras afirmativas são uma ferramenta poderosa para o empoderamento das mulheres e fortalecimento da economia. Participar de rodadas de negócio é uma excelente estratégia.

3)Estimular marcas a apoiarem negócios de mães empreendedoras, promovendo seus produtos e serviços, fazendo uso da abrangência e alcance de suas marcas.

Nesse contexto é igualmente importante apoiar a retenção de talentos de colaboradoras mães nas empresas. Entender o impacto da maternidade na carreira das mulheres e estar preparada para implementar processos que considerem a chegada dos filhos e filhas como um dos momentos de vida mais importantes de seus colaboradores e colaboradoras é uma resposta assertiva para melhorar a paridade de gênero nas empresas e aumentar a participação das mulheres em cargos de liderança.

A ONU Mulheres convida as empresas a conhecerem e se comprometerem com os 7 Princípios de Empoderamento das Mulheres (WEPs) e assumirem este compromisso com a comunidade e suas equipes por um mundo igualitário. Para assinar os WEPs e se comprometer com a igualdade de gênero, acesse: www.weps.org

Sobre o Programa Ganha-Ganha: Igualdade de Gênero Significa Bons Negócios

A ONU Mulheres, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) e a União Europeia (UE) acreditam que a desigualdade de gênero no mercado de trabalho é um problema que precisa ser encarado sem subterfúgios. Com base nessa convicção, foi criada uma parceria estratégica para implementar o ¨Ganha-Ganha: Igualdade de Gênero significa Bons Negócios¨, um programa regional desenvolvido em seis países da América Latina e Caribe (Argentina, Brasil, Chile, Costa Rica, Jamaica e Uruguai), que teve início em janeiro de 2018 e finalizou em junho de 2021.

O objetivo do Programa foi o de promover o empoderamento econômico das mulheres, reconhecendo seu papel como beneficiárias e parceiras do crescimento e desenvolvimento, bem como o compromisso e a competência crescentes de instituições privadas e públicas para promover mudanças com foco na igualdade de gênero e no empoderamento das mulheres. O programa foi implementado e avaliado por meio de várias atividades, organizadas em três eixos:

1) Trabalho em rede e cooperação entre empresas lideradas por mulheres.

2) Fortalecimento de capacidades, compartilhamento de conhecimento e boas práticas e advocacy entre empresas e organizações de empregadores.

3) Mecanismos e financiamento para apoiar a inovação e empreendimentos inovadores liderados por mulheres.

O Programa Ganha-Ganha está alinhado aos grandes compromissos internacionais pela igualdade de gênero – como a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, a Declaração de Pequim, e  também as diretrizes firmadas em diferentes sessões da Comissão sobre a Situação das Mulheres (CSW).

Tendo como principal ferramenta os WEPs, o Programa Ganha-Ganha, realizou diferentes ações junto ao setor privado e também instituições de negócios para promover um ambiente de trabalho igual para homens e mulheres; igualdade de acesso a recursos, emprego, mercados e comércio; acesso das mulheres a serviços de negócios, treinamentos, mercados, informações e tecnologia; melhoria da capacidade econômica e das redes comerciais; eliminação da segregação ocupacional e todas as formas de discriminação no ambiente de trabalho; promoção de relação harmônica entre as responsabilidades trabalhistas e familiares de mulheres e homens – destacando sempre que o desenvolvimento sustentável é uma responsabilidade de toda a sociedade e que as empresas têm um papel importante nesse processo.