O papa Francisco conduziu neste sábado (24) os católicos de todo o mundo ao Natal, dizendo em uma aparente referência à guerra na Ucrânia e outros conflitos que o nível de ganância e fome de poder é tal que alguns querem “consumir até mesmo seus vizinhos”.
Francisco, celebrando o 10º Natal de seu pontificado, presidiu uma solene missa de véspera de Natal na Basílica de São Pedro. A cerimônia foi a primeira com capacidade para cerca de 7 mil pessoas desde o início da pandemia.
Cerca de 4 mil outras pessoas participaram do lado de fora, na Praça de São Pedro, em uma noite relativamente quente.
Como tem acontecido nos últimos meses, um problema no joelho impediu Francisco de ficar de pé por longos períodos, delegando um cardeal para ser o principal promotor da cerimônia no altar da maior igreja da cristandade.
Sentado ao lado do altar durante a maior parte da missa, Francisco teceu sua homilia em torno do tema da ganância e do consumo em vários níveis. Ele pediu às pessoas que olhem além do consumismo que “embalou” a festa de natal para redescobrirem seu significado e lembrarem aqueles que sofrem com a guerra e a pobreza.
“Homens e mulheres em nosso mundo, em sua fome de riqueza e poder, consomem até mesmo seus vizinhos, seus irmãos e irmãs”, disse ele. “Quantas guerras já vimos! E em quantos lugares, ainda hoje, a dignidade e a liberdade humanas são tratadas com desprezo!”
Desde que a Rússia invadiu a Ucrânia em fevereiro, Francisco se manifestou contra a guerra em quase todos os eventos públicos, pelo menos duas vezes por semana, denunciando o que chama de atrocidades e agressão não provocada. Ele, porém, não citou o nome da Ucrânia na noite deste sábado.
“Como sempre, as principais vítimas desta ganância humana são os fracos e os vulneráveis”, disse ele, denunciando “um mundo faminto por dinheiro, poder e prazer…”
“Penso sobretudo nas crianças devoradas pela guerra, pela pobreza e pela injustiça”, disse o papa, referindo-se também às “crianças nascituras, pobres e esquecidas”.
Traçando um paralelo entre Jesus nascido em uma manjedoura e a pobreza de hoje, o papa disse: “Na manjedoura da rejeição e do desconforto, Deus se faz presente. Ele vem porque ali vemos o problema de nossa humanidade: a indiferença produzida pela pressa gananciosa de possuir e consumir.”
No início deste mês, o papa pediu para as pessoas gastarem menos com as celebrações e presentes de Natal para enviarem a diferença aos ucranianos para ajudá-los a passar o inverno.
O papa completou 86 anos na semana passada e, além do problema no joelho, parece estar em boa saúde.
No domingo, Francisco deve entregar sua bênção e mensagem “Urbi et Orbi” (para a cidade e para o mundo) bianuais do balcão central da Basílica de São Pedro para dezenas de milhares de pessoas na praça abaixo.