No Dia dos Pais, especialista explica como a participação da figura paterna impacta na infância e na vida adulta

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Seja como protagonista ou coadjuvante da história, a verdade é que todo mundo guarda alguma memória ou sentimento referente ao seu pai. Essa figura, tão fundamental em nossas vidas, muitas vezes, molda a percepção do mundo e de nós mesmos.

Isso ocorre porque, quando somos crianças, absorvemos diversas referências de nossos pais, e elas, por sua vez, influenciam diretamente no nosso desenvolvimento socioemocional e cognitivo.

“Desde a primeira infância, o pai desempenha um papel de extensão materna e, ao mesmo tempo, de separação da figura da mãe, à qual o bebê está biologicamente ligado devido ao aleitamento materno. Portanto, é fundamental que essa pessoa participe de todos os cuidados, que se alteram conforme os estágios do desenvolvimento da criança”, afirma Hellen Joana Cardozo, psicóloga clínica do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) Adulto II Jardim Lídia, gerenciado pelo CEJAM – Centro de Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim” em parceria com a Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo.

Filhos criados com a presença ativa de um pai em seu crescimento podem desenvolver-se de maneira positiva em suas interações sociais, sensação de segurança, demonstração de afeto, autonomia e processos de tomada de decisão ao longo da vida.

Apesar de toda essa dimensão, muitas pessoas ainda se sentem perdidas ao assumir o posto. “Não é necessário ter um manual para ser um bom pai. No entanto, seguir algumas orientações sobre como reconhecer o próprio papel e entender que, mesmo com a presença materna, é necessário participar do processo de criação, é essencial”, enfatiza a especialista.

De acordo com a psicóloga, todos os laços afetivos são construídos e fortalecidos por meio da vivência, o que não é diferente com os filhos. Assim, por meio do brincar, troca de afeto, atenção e cuidados, os pais podem se fazer presentes e ativos na vida de seus filhos.

Mesmo em casos de separação dos cônjuges, é importante compreender que esse vínculo não precisa ser rompido, mas, sim, adaptado de novas maneiras. “A paternidade pode ser leve mesmo após a separação. É possível aproveitar as visitas obrigatórias para fazer parte da rotina da criança. Criar um espaço de escuta nesse momento é crucial, buscando ser um amigo e compreender o dia a dia na escola, novas amizades ou brincadeiras recentemente aprendidas, por exemplo. Ser parte da rotina de saúde da criança também faz toda a diferença, acompanhando-a em vacinações e consultas pediátricas”, destaca.

A falta que impacta no futuro

Por outro lado, a ausência paterna pode acarretar uma série de consequências negativas para a criança. Se a presença ativa do pai é benéfica para o desenvolvimento, a sua ausência também deixa lacunas e diversos questionamentos.

Uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas revelou um aumento de 17% no número de mães solos na última década, passando de 9,6 milhões em 2012 para mais de 11 milhões em 2022, evidenciando a ausência dessa figura entre os brasileiros.

“A criança tende a ser egocêntrica, e se ela não recebe o afeto esperado, pode atribuir a culpa a si mesma. Quando essa distância entre pai e filho ocorre na infância, ela, muitas vezes, não possui recursos suficientes para lidar com a ausência e pode desenvolver baixa autoestima, e pensamentos como ‘não sou bom o suficiente’ e ‘não mereço coisas boas’, além de sentimentos de abandono, raiva, tristeza e insegurança”, explica Hellen.

Esses sentimentos, se não forem trabalhados ao longo do amadurecimento, podem acarretar consequências também na vida adulta. A psicóloga observa isso em sua prática clínica, especialmente nas relações amorosas: “Mulheres que tiveram pais emocionalmente distantes, resultando em uma falta de afeto sólido, tendem a buscar inconscientemente indivíduos que também estejam emocionalmente indisponíveis para elas. Como resultado, frequentemente, enfrentam emoções fragilizadas”.

O mesmo ocorre com homens que cresceram com essa falta. “Se houve distância emocional na relação com o pai, muitas vezes, não há um modelo a ser seguido ou uma referência clara. Isso pode levar, consciente ou inconscientemente, ao entendimento de que o afastamento emocional é a opção mais fácil para as relações”, finaliza.

Em ambos os casos, o medo do abandono passa a ser um sentimento forte e constante, caso não tratado. E isso pode contribuir para a perpetuação de relações tóxicas que afetam a saúde mental, além de outros sintomas emocionais.