Como parte das comemorações do aniversário de Salvador, a Cidade da Música da Bahia realizou o lançamento dos clipes das canções vencedoras do concurso Nova Música da Bahia. O evento, com entrada gratuita, movimentou o espaço cultural localizado no bairro do Comércio.
As três músicas selecionadas foram: “As Flores”, do Grupo Performáticos Quilombo; “Bloco de Notas”, de Riane Mascarenhas; e “Bad Girl”, de Fall Clássico e Bruno Kroz. As produções vencedoras foram gravadas pelo músico e produtor musical Renato Nunes, com tecnologia de ponta.
O resultado superou as expectativas e dinamizou o estúdio. Diretora executiva da Via Press, empresa responsável pela gestão da Cidade da Música e de outros seis espaços culturais de Salvador, Elaine Hazin disse ter ficado feliz com o resultado.
“Acho que temos uma potência enorme. Tivemos quase 400 inscrições, a maioria de bandas novas que não são conhecidas, mas que precisavam de espaço para gravar as suas canções, seus videoclipes e para que esse produto também pudesse estar aqui agora dentro do museu. Com isso, a gente renova o acervo e abre espaço para os novos artistas”, afirmou.
Para a gestora, o concurso e lançamento dos clipes integram a missão de democratizar a Cidade da Música, tornando-a um espaço vivo. “Esperamos que este espaço não apenas conte a história da música e de todos os artistas e movimentos culturais que nasceram na Bahia, mas também receba e divulgue a nova geração de artistas e bandas que vivem da música hoje, principalmente na periferia”, acrescentou.
Seleção – O concurso Nova Música da Bahia foi lançado em 2022 e recebeu 390 músicas inscritas que passaram por um cuidadoso processo de curadoria, composta por Jonga Cunha (produtor cultural), Renato Nunes (contrabaixista e produtor musical) e Nairo Elo (baterista e produtor musical).
Após a seleção das músicas, os artistas iniciaram o trabalho de produção dos videoclipes com a gravação e orientação de Renato Nunes.
“Estamos conseguindo ocupar esse espaço, que é importante para qualquer artista que está fazendo música e trabalhando com arte. O clipe vai ajudar mais ainda a divulgar o nosso trabalho”, contou Fall Clássico, que escreveu “Bad Girl” juntamente com Bruno Kroz.
Conceitos – O clipe de “Bad Girl” une elementos da música jamaicana e baiana, enaltecendo a beleza, independência e força da mulher preta, inspirada pela icônica Rihanna. “O clipe busca exaltar a mulher preta como uma deusa, destacando sua beleza, independência e inteligência. Mostramos uma deusa africana com as suas origens ancestrais, e quando ela entra na Cidade da Música, ela se transforma na deusa do Ilê”, contou Fall.
Também vencedora do concurso, a canção “Bloco de Notas” tem ritmo de reggae e fala de mulheres que gostam de escrever, de se expressar e colocar para fora o que sentem, mas que muitas vezes não têm coragem de compartilhar essa produção artística com o mundo.
“Então a música fala desse espaço, que é o bloco de notas do celular ou manual, que a gente tem para escrever as coisas e colocar para fora, mas que muitas vezes, por medo e falta de coragem, não compartilha-se com as pessoas”, revelou a autora Riane Mascarenhas, de 25 anos.
Ela conta que se emocionou muito ao saber que foi uma das vencedoras do concurso e que teria a sua obra lançada: “Foi o primeiro concurso em que eu participei e ganhei para algo que é muito importante para mim. Foi a primeira notícia de que eu teria uma música minha lançada e gravada, com o apoio de pessoas experientes. A minha primeira reação foi chorar de emoção e ligar para os meus familiares para compartilhar essa vitória, que não é só minha, mas também de todos que me acompanham”.
Representante do grupo Performáticos Quilombo, Antônio Soares conta que a música “As Flores” surgiu de um esboço sobre a força da natureza e dos orixás. “A música fala de Nanã e de Oxóssi, integrando um compromisso que temos de denunciar o racismo e combater a intolerância religiosa”.
Ter ganhado o concurso, para ele, foi um grande presente: “Ganhamos um fonograma e um clipe de qualidade. Manter uma produção com todo esse cuidado é difícil. Para mim, o concurso representa acolhimento e agrega artistas que vivem à margem da mídia. Se você reparar, as pessoas contempladas foram pretas e periféricas. Isso quer dizer que nós temos uma coisa grandiosa de música e de arte”, opinou.