No Dia Mundial de Conscientização do Autismo, celebrado em 2 de abril, especialistas destacam os avanços no diagnóstico e tratamento do Transtorno do Espectro Autista (TEA) no Brasil, mas alertam para os desafios que ainda persistem, especialmente no acesso a serviços especializados e na inclusão social.
Segundo dados do Ministério da Saúde, estima-se que cerca de 2 milhões de brasileiros estejam dentro do espectro autista, com prevalência quatro vezes maior em meninos do que em meninas. Nos últimos cinco anos, houve um aumento de 40% nos diagnósticos, o que, de acordo com especialistas, reflete tanto a maior conscientização sobre o transtorno quanto o aprimoramento das ferramentas de avaliação.
A neuropediatra Dra. Camila Rodrigues, do Instituto Nacional de Saúde da Criança, ressalta a importância do diagnóstico precoce: “Hoje conseguimos identificar sinais de alerta em bebês a partir dos 18 meses, o que permite intervenções mais eficazes. Quanto mais cedo começamos o acompanhamento, melhores são os resultados em termos de desenvolvimento e qualidade de vida.”
Entre os avanços recentes, destaca-se a ampliação da rede de Centros Especializados em Reabilitação (CERs) pelo SUS, que passou de 214 unidades em 2020 para 298 em 2025, oferecendo atendimento multidisciplinar para pessoas com TEA. Além disso, a implementação da Lei Brasileira de Inclusão e da Lei Romeo Mion, que instituiu a Carteira de Identificação da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista, trouxe avanços significativos nos direitos das pessoas autistas.
No campo educacional, a professora e pesquisadora Ana Lúcia Gomes, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), aponta que houve progressos na inclusão escolar, mas ainda há muito a ser feito: “Temos mais crianças autistas nas escolas regulares, mas precisamos avançar na capacitação dos professores e na adaptação dos métodos pedagógicos. Não basta garantir a matrícula, é preciso assegurar a aprendizagem efetiva.”
Um dos principais desafios apontados pelos especialistas é a desigualdade regional no acesso aos serviços. Enquanto nas capitais e grandes centros urbanos há mais recursos disponíveis, no interior e em regiões remotas as famílias enfrentam dificuldades para encontrar profissionais especializados e serviços de apoio.
“Temos famílias que precisam se deslocar centenas de quilômetros para conseguir atendimento adequado”, afirma Ricardo Lustosa, presidente da Associação Brasileira de Autismo (ABRA). “Além disso, o custo das terapias não cobertas pelo SUS ou pelos planos de saúde é um fator limitante para muitas famílias.”
Outro ponto destacado é a necessidade de maior atenção aos autistas adultos, que muitas vezes ficam invisibilizados nas políticas públicas. “Grande parte das iniciativas é voltada para crianças, mas precisamos pensar em todo o ciclo de vida, incluindo a transição para o mercado de trabalho e o envelhecimento das pessoas autistas”, observa a psicóloga Mariana Campos, especialista em neurodiversidade.
Para marcar a data, diversas atividades estão sendo realizadas em todo o país, como iluminação de monumentos em azul, cor símbolo da conscientização sobre o autismo, palestras, workshops e campanhas nas redes sociais. O objetivo é não apenas sensibilizar a população, mas também promover o debate sobre políticas públicas mais efetivas e inclusivas.
“Mais do que conscientização, precisamos de ação concreta. Isso significa investimento em pesquisa, formação de profissionais, ampliação da rede de atendimento e, principalmente, escuta ativa das pessoas autistas sobre suas necessidades e desejos”, conclui Lustosa.