Dismorfia Financeira: estudo revela desafios emocionais diários na relação dos brasileiros com o dinheiro

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A relação com o dinheiro vai além do aspecto racional e tem um impacto emocional na vida dos brasileiros de todas as classes sociais, tanto é que sete em cada dez não usam palavras positivas quando precisam descrever sua vida financeira. É o que aponta estudo inédito “Dismorfia Financeira” lançado pelo will Bank, banco 100% digital com mais de 4 milhões de clientes no país. Os dados traduzem o que as pessoas pensam e, principalmente, sentem sob uma ótica nada óbvia que vai além do ter ou não dinheiro, mas de se sentir incluído, evidenciando os desafios do mercado financeiro para acolher e trazer pertencimento às diferentes e plurais realidades brasileiras.

O estudo – para o qual foram entrevistadas mais de 2 mil pessoas, entre 18 e 40 anos, de diferentes grupos étnicos, classes sociais e de todas as regiões do país – revela que a relação com o dinheiro é muitas vezes dolorida. Isso ocorre mesmo entre aqueles que não estão em situação financeira precária, quando sentimentos de inadequação e comparação com outras pessoas são comuns: 71% acreditam que os outros ganham facilmente aquilo que eles precisam conquistar com muito esforço, o mesmo percentual disse que há lugares em que se sentem desconfortáveis de estar ou de pensar em ir. No nordeste, o percentual aumenta um pouco e chega a 72%.

Enquanto na amostra geral 71,3% não usam palavras positivas para descrever a situação financeira atual, o cenário muda quando olhamos para homens brancos da classe AB1: positivas são maioria, com 58,1% , negativas somam 19,4% e neutras 22,5%. Já no outro extremo, mulheres pretas e pardas da classe DE, palavras positivas são apenas 10,5%, negativas 61,4% e neutras 28,1%.

Um olhar para o Nordeste
No Nordeste, onde estão 60% dos clientes do will Bank, a maioria em cidades com menos de 100 mil habitantes, as contas do dia a dia preocupam mais do que o resto do país. E a palavra desconforto se destaca na região: ela foi escolhida por 13,2% dos entrevistados, o maior percentual entre as regiões para descrever as necessidades mais imediatas e recorrentes, tais como compras de supermercado do mês, contas de consumo de água, luz e moradia, causam sentimento de preocupação. O Sudeste aparece em segundo lugar, com 11,4%, seguido de Norte (9,2%), Sul (8,9%) e Centro-Oeste (8,1%).

No outro extremo, a palavra tranquilidade, opção de 29,8% da amostra geral, aparece em apenas 14% das respostas dos nordestinos, percentual mais baixo entre todas as regiões. O Sul assinalou 22%, Centro-Oeste 17,2%, Sudeste 16,1% e Norte, com 14,3%.

Quando o assunto são outros gastos eventuais, que envolvem parcelamento dos bens, tais como compra de um celular ou um eletrodoméstico novo, entrada ou parcelas mensais de uma moto ou outro automóvel, os nordestinos também tiveram o menor percentual da palavra satisfação entre todas as regiões. Apenas 12% se sentem confortável para essas compras, quase a metade do percentual obtido no Sul (20%), por exemplo.

A pesquisa apontou que 62% dos nordestinos entrevistados disseram que às vezes têm vontade de usar o crédito que lhes é oferecido, mas não usam porque têm medo de não conseguir pagar. Só ficando atrás do Norte, região com maior índice para esta alternativa no país, com 67%.

O Nordeste também aparece na pesquisa como a região que menos respondeu já ter pedido  um empréstimo para o banco via aplicativo,  apenas 28,8% dos entrevistados contra 37,6% no Centro-oeste, por exemplo, região com maior percentual. Também não pediram empréstimo para o banco através do gerente ou atendente, com apenas 12,6% ante os 18,2% do Sul, região que mais pontuou.

Apesar das características de comportamento solar e alegre, a região ficou com maior índice de respondentes afirmando que com frequência sentem que um futuro próspero é cada vez mais distante ou até impossível, com 54%, mais da metade das pessoas.

Vale ressaltar que na região há maior incidência de desbancarização do país, é lá também que estão a maior parte dos clientes do will Bank, 60% dos 4 milhões, em geral, em cidades com menos de 100 mil habitantes, como é .de Allycia Silva,  cabeleireira de 24 anos, cliente do will Bank em São José do Egito (PE), cidade com pouco mais de 34 mil habitantes. Outro exemplo é Eliane Gonçalves, cliente will Bank em Bom Conselho (PE), que tem pouco mais de 45 mil habitantes. Ambas participaram do vídeo que explica o fenômeno da dismorfia financeira e contaram um pouco da relação que tem com o dinheiro.

Afinal, o que é essa tal de dismorfia financeira?

O assunto dinheiro é uma luta diária para a maioria das pessoas, repleta de problemas, privações e dívidas. Ainda mais vivenciando realidades distorcidas por questões diversas, como a social, histórica, mercadológica e, até mesmo, reforçadas pelas redes sociais. Nesse cenário, o estudo identificou a existência da chamada dismorfia financeira, uma condição que pode atrapalhar o bem-estar das pessoas – o que faz muita gente criar uma aversão ao assunto. Querer “evitar” o problema tem como resultado uma falta de consciência dos próprios gastos e ausência completa de metas financeiras.

“A dismorfia financeira é baseada na falta de pertencimento a um padrão criado por aqueles que já têm dinheiro. Ainda assim, ela não afeta apenas os mais pobres e marginalizados. Mesmo quando se alcança um determinado patamar, a falta de algo sempre prevalece, o padrão ideal nunca é ou será alcançado – gerando sentimentos muitas vezes conflitantes em meio a realidades distorcidas. Queremos gerar discussão sobre essas questões propondo a quebra de certos paradigmas, ainda mais porque acreditamos no crédito como um direito humano, que pode apoiar na jornada de evolução e empoderamento financeiro de muitas pessoas brasileiras”, explica Felipe Félix, CEO do will Bank.

A grama do vizinho

A comparação com a situação financeira do outro acaba sendo inevitável. E a grama do vizinho sempre costuma ser mais verde. Mais da metade (53%) dos entrevistados disse acreditar que, mesmo ganhando mais, outras pessoas sempre estarão na sua frente, enquanto 52% afirmaram que “ser rico” significa pertencer a outros grupos distantes da sua realidade.

“Muitas dessas pessoas acreditam que sempre haverá uma condição melhor a ser atingida, não importa quanto dinheiro elas tenham na conta. Por outro lado, a alegria de subir na vida e ganhar mais dinheiro é compartilhada por 88% dos entrevistados, que afirmam sentir mais satisfação ao conquistar algo que outras pessoas duvidaram”, diz Félix.

O estudo aponta ainda os abismos que existem entre perfis extremos. Homens brancos da classe AB1 são os que mais costumam descrever sua situação financeira como estável, ao mesmo tempo em que mulheres pretas e pardas da classe DE usam termos que remetem ao desespero quando questionadas sobre dinheiro. Essas mesmas mulheres relataram demorar mais tempo para comprar o que desejam quando se comparam a conhecidos. Além disso, 74,3% delas afirmam sentir que outros ganham mais facilmente coisas que, para elas, exigem muito esforço. No cenário atual, homens da classe AB1 utilizam em média 5,8 produtos financeiros, enquanto mulheres pretas e pardas da classe D e E contam com apenas 1,8 produtos. Apenas 2% desse grupo fazem investimentos, em contraste com 49% dos homens de classe mais alta.

Inclusão financeira: mercado criando para pessoas

O primeiro estudo sobre dismorfia financeira do Brasil, realizado pelo will Bank, reforça a importância de incluir os mais vulneráveis no sistema financeiro e oferecer produtos e serviços adequados a esse público, que é tão diverso. Os dados mostram que a oferta atual de serviços nesse setor favorece a manutenção da lógica já existente e predominante. ou seja, a favor de padrões estabelecidos por aqueles em uma condição financeira melhor, não sendo suficiente para acolher os dismórficos, com a oferta de alternativas e produtos que possam mudar sua realidade.

Esses números evidenciam a necessidade de promover uma inclusão financeira mais ampla e garantir que todos os indivíduos tenham acesso a serviços bancários adequados, superando barreiras sociais e oferecendo um ambiente acolhedor e igualitário para todos.

O cartão de crédito pode servir como porta de entrada, sendo acessado por 26,3% das mulheres pretas e pardas da classe DE. Mas apenas 9,1% delas já solicitaram empréstimos a um banco, em comparação com 24,1% da parcela mais privilegiada, os homens brancos da classe AB1. Em geral, pessoas pretas e pardas não se sentem pertencentes às instituições tradicionais, muitas vezes se sentindo julgadas ou inadequadas.

“A discussão é longa e necessária. Para reduzir a dismorfia financeira no Brasil é fundamental incluir os mais vulneráveis e aqueles que tradicionalmente têm uma relação desfavorável com os bancos. Somos conscientes de que a diferença entre classes econômicas e seus efeitos ainda vai existir amanhã, assim como a busca incessante por melhores oportunidades e condições de vida. Mas acreditamos que seja possível transformar as atuais e as futuras gerações propondo um novo olhar e novos caminhos de inclusão, criando um hoje melhor que ontem”, conclui o CEO do will Bank.

O estudo completo pode ser baixado, gratuitamente, no site.