Iniciativa de gestão de reaproveitamento de têxteis se mostra fundamental no combate às alterações climáticas

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A passagem do Dia Mundial do Meio Ambiente (05 de maio) é uma oportunidade para a sociedade aprofundar o debate sobre o consumo sustentável como uma prática essencial de combate às alterações climáticas. Os resíduos sólidos são fontes de emissão de gases de efeito estufa (GEE), considerado um dos principais responsáveis pelas alterações climáticas. A busca de soluções para o gerenciamento adequado dos resíduos sólidos tem se constituído em desafio, tanto para o setor público como para o setor privado. O Brasil descarta mais de 4 milhões de toneladas de resíduos têxteis por ano, segundo a Abrelpe (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais).

O Repense Reuse é uma iniciativa pioneira que contribui para a mitigação das alterações climáticas por meio da circularidade no uso do têxtil. Através da gestão do prolongamento da vida útil de têxteis de segunda mão, o Repense Reuse gera um impacto positivo no meio ambiente e consequentemente para a sociedade. A importância das atividades de gestão de descartes está no fato de priorizarem a redução das emissões de GEE. A circularidade na moda permite ao projeto eliminar um sistema de desperdício que polui e degrada o meio ambiente, além de promover a conscientização da sociedade sobre o descarte correto dos têxteis de segunda mão.

O recolhimento de toneladas de têxteis realizado pelo Repense Reuse evita o acúmulo nos aterros sanitários, impactando positivamente na melhoria da qualidade de vida e na conservação do meio ambiente. Quando dispostos irregularmente, os resíduos causam obstrução de vias e logradouros públicos, comprometimento da qualidade do ambiente e da paisagem local, proliferação de vetores, assoreamento de córregos e rios, além dos custos com limpeza e outros impactos negativos.

Para a professora titular do Departamento de Engenharia Ambiental e Docente Permanente do Mestrado em Meio Ambiente, Águas e Saneamento – MAASA da Universidade Federal da Bahia, Viviana Zanta, o setor público e o privado devem priorizar e investir em ações como as desenvolvidas pela iniciativa Repense Reuse. “Somente com projetos como esse, que promovam a circularidade da cadeia produtiva é que conseguiremos minimizar os impactos ambientais negativos. Quando se prioriza a etapa de prevenção da geração de resíduos, por meio da reutilização, aumenta-se a vida útil do produto, melhora-se indicadores sociais de geração de renda e emprego, se reduz a emissão de gases de efeito estufa, se diminui as fragilidades da infraestrutura urbana, e, consequentemente, aumenta-se a resiliência da comunidade, o que fortalece o enfrentamento de desafios, como a atual crise climática”, argumenta.

Desde 2021, cerca de 420 toneladas de resíduos têxteis foram coletadas pelo Repense Reuse, cujo objetivo é o reaproveitamento máximo das peças, através das atividades de upcycling (reutilização) que norteiam o movimento para uma economia mais circular. Este total coletado equivale ao envolvimento de 60 mil pessoas doando e gera uma economia de emissão de 2.562.000 quilos de gás carbônico e uma economia de 2,52 trilhões de litros de água, que daria para encher 1.008 piscinas olímpicas, segundo dados de Laura Farrant citados no artigo acadêmico “Environmental benefits from reusing clothes”, publicados pelo The International Journal of Life Cycle Assessment (2010).

De acordo com a gerente de implementação do projeto, Cláudia Andrade, esse cálculo é produzido pela Humana Internacional, e está em concordância com as estratégias para têxteis circulares e sustentáveis da União Europeia. “Em nosso projeto trabalhamos com dados e indicadores que mostram os impactos ambientais gerados com a gestão do prolongamento do têxtil proporcionado pelo Repense Reuse”, ressalta. Como impactos sociais, o Repense Reuse, no ano de 2023, subsidiou um conjunto de projetos da Humana Brasil, através do desenvolvimento comunitário de Castelo Branco que envolve: Cidadania e Protagonismo; Qualificação de Conselheiros Tutelares; Humana Karatê; Humana Futebol; Ginástica do Bem; Meninas de Futuro; Futuro Aberto; Costurando Sonhos, impactando positivamente a vida de 1.154 pessoas e mais 150 famílias no projeto social Bahia Produtiva.

Alterações climáticas

O efeito estufa é considerado a principal causa das alterações climáticas, que hoje já estão sendo chamadas pelos especialistas de ‘catástrofes climáticas’ (furacões, tornados, secas e enchentes, entre outros). Ao atuar na gestão de resíduos têxteis, transformando roupas de segunda mão em novas peças para consumo, o Repense Reuse recupera e mantém de forma sustentável esses produtos dentro do ciclo econômico pelo maior tempo possível. A tragédia das enchentes no Rio Grande do Sul é mais um exemplo de catástrofe climática.

Coleta de roupas

As pessoas interessadas em contribuir com roupas usadas para o projeto Repense Reuse podem depositar as peças nos coletores instalados em locais públicos e privados em Salvador e região. No total são 155 contêineres instalados nos bairros Imbuí, Amaralina, Jardim Armação, Águas Claras, Pituba, Caminho das Árvores, Costa Azul, Itaigara, Boca do Rio, Barra, Ondina, Corredor da Vitória, Canela, Cajazeiras, Castelo Branco, Barris, Piedade, Lapa, Pituaçu, Patamares, Pernambués, Piatã, Itapuã, Lobato, Stella Maris, Stiep, San Martin. Na região metropolitana, os coletores estão localizados em Vilas do Atlântico, Abrantes, Arembepe, Guarajuba, Itacimirim, Praia do Forte, Camaçari e Feira de Santana.