Projeto de intercâmbio para Portugal resgata autoestima de estudantes da rede municipal de Salvador

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A dedicação de meses de pesquisa e elaboração de roteiros para a criação de histórias em quadrinhos vai levar as jovens Ester Rodrigues e Stephany Cecilia Araújo, de apenas 13 anos, a participar de um intercâmbio em Portugal com tudo pago. Elas são alunas da Escola Municipal Iacy Vaz Fagundes, localizada no Vale da Muriçoca, na Federação, e foram premiadas pelo projeto nacional “Era Uma Vez… Brasil”.

As narrativas originais das estudantes, que contam a história da Independência da Bahia com criatividade, foram selecionadas para o livro de histórias em quadrinhos (HQs) “Mais do que o Ipiranga: as independências de outros Brasis”, que reúne 100 histórias escritas e ilustradas pelos participantes.

Stephany reuniu na própria trama personagens históricos e ícones do 2 de Julho: Maria Felipa, Maria Quitéria, Joana Angélica e Bartolomeu Jacaré com doses de ação, drama e humor. Para ela, o maior desafio de participar do concurso foi escrever o roteiro e vencer a introversão para participar das demais etapas da seletiva, que reuniu em um campus jovens de várias cidades do estado.

“Sempre fui muito tímida e foi muito difícil participar da segunda etapa, que era no campus. Cheguei a chorar à noite, mas encontrei motivação na minha bisavó, prima e em outras meninas para continuar. Esse processo foi muito importante para mim, porque fez eu me soltar mais, me autoconhecer e entender os meus sentimentos”, destacou.

A garota contou que a viagem é apenas uma parte da transformação que a vida dela passou nos últimos meses. “Nunca tinha conhecido meninas que se motivassem tanto. Minha geração tem muitos problemas de desvalorização e sexualização das mulheres, mas lá foi inspirador encontrar meninas que me abriram portas e me fizeram continuar. Para mim é mais do que um projeto e é muito importante falar sobre a minha experiência porque as pessoas desvalorizam muito a escola pública, mas essa oportunidade veio através da escola. Nos deram a oportunidade de mostrar nossos talentos”, relatou emocionada.

Indígena protagonista – Ester criou uma narrativa protagonizada por uma indígena chamada Suyane, que ao viajar para uma cidade vizinha descobre uma guerra iminente que resultaria na Independência da Bahia. Ela contou que está com uma mistura grande de sentimentos, pois não acreditava no seu potencial e se descobriu ainda mais capaz.

“Meu coração está disparado. Estou esperando reencontrar os amigos que fiz durante o campus do projeto. Também estou muito curiosa para experimentar a comida de Portugal. Espero conhecer bastante gente legal tanto de lá quanto de outros estados do Brasil. Quero trocar experiências com pessoas que conseguiram chegar onde cheguei”, destacou.

A garota, que sonha em ser pediatra, já consegue vislumbrar um futuro brilhante. “Não é só Portugal que vai me levar longe, mas meus sonhos também, que comecei a ter a partir do projeto. Tive muita dúvida em me inscrever e não acreditava que ia conseguir. Foi uma felicidade muito grande ter passado não só para mim, mas para minha mãe, madrinha, tios, vizinhos. Tive muito apoio e foi tudo muito emocionante. Agora já quero participar de outros projetos para ir a outros lugares”, contou.

Educação que transforma – O professor e orientador das meninas, Renilson Miranda Paciência já possui experiência com “Era Uma Vez… Brasil”. Este é o quarto ano que ele atua desenvolvendo e orientando alunos de escolas onde atua a concorrer.

“Meu trabalho é ampliar as possibilidades. Então eu faço a pesquisa e vou explorando durante as aulas as possibilidades para que quando chegue no exercício de começar o roteiro, tenham todo o embasamento histórico necessário. Em um exercício solitário, muitos desistem. Fui apenas o articulador de muitas mãos envolvidas no projeto”, afirmou.

Apaixonado pelo ato de ensinar, Miranda destaca o poder transformador que a educação possui e afirma que o compromisso vai além dos desafios que a vida impõe. “Eu coloco em prática na execução do projeto, mas também no cotidiano. O projeto dialoga com o meu modo de fazer o ensino de história. No dia a dia precisa ser uma história que dialogue com o nosso presente e nossos problemas”, relatou.

Troca de experiências – As estudantes viajaram no domingo (12) e vão passar dez dias em Portugal vivenciando e trocando experiências culturais. Elas concorreram com mais de 4,4 mil estudantes inscritos de todo o país. Em Salvador, o projeto contou com 540 alunos inscritos, mobilizando 54 professores e 41 escolas. Nesta edição, a Smed ampliou o número de alunos contemplados, que passou de sete para 11 estudantes. Ao todo, 39 alunos e professores baianos foram selecionados na Bahia, formando um coletivo de 126 brasileiros intercambistas.

A gestora da escola, Michele Checcucci, destacou que a premiação deixa toda a comunidade escolar lisonjeada, porque foi fruto de um trabalho coletivo que visa inspirar todos os estudantes. “Atribuímos esse êxito a elas e ao professor. Ele foi o fomentador desse desejo e despertou uma semente para que elas acreditassem no potencial delas. Ele sempre esteve subsidiando e dando os instrumentos que precisavam, além de envolver as famílias no processo. Essa parceria família x escola é uma via de objetivo único, que é formar cidadãos para, no futuro, fazerem a diferença na sociedade”, contou.

Roteiro da viagem – Além das estudantes da Escola Municipal Iacy Vaz, entre os intercambistas soteropolitanos estão alunos das escolas municipais São Domingos Sávio (Ondina), Visconde de Cairu (Engenho Velho de Brotas), Professor Antônio Carvalho Guedes (São Caetano), Amélia Rodrigues (Tororó), Jorge Amado (Itapuã), 15 de Outubro (Fazenda Grande do Retiro), Cidade de Jequié (Federação), Clériston Andrade (São Marcos) e 2 de Julho (Trobogy).

A viagem contará com passeios a pontos históricos e os estudantes visitarão escolas e universidades de Lisboa e regiões próximas, onde terão a oportunidade de trocar informações diretamente com estudantes e professores portugueses falando, inclusive, sobre os aspectos culturais e regionais do Brasil. Os estudantes brasileiros irão ainda apresentar os produtos produzidos por eles durante as etapas do projeto: 20 curtas-metragens, além do livro de HQs.

Sobre o projeto – O “Era Uma Vez…Brasil” reconta a história do país, trabalhando em sala de aula narrativas não mostradas pelos livros didáticos tradicionais e exaltando a importância dos povos originários na construção histórica do país. Voltado para estudantes e professores de história do oitavo ano da rede pública de ensino, o “Era Uma Vez…Brasil” chega à sua sétima edição em 2023 trabalhando o recorte temático “Mais do que o Ipiranga: as independências de outros Brasis”.

Na capital baiana o projeto possui parceria com o Grupo Rodonaves e a Secretaria Municipal da Educação (Smed). Nacionalmente, o “Era Uma Vez… Brasil” tem o apoio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, pelo Ministério da Cultura do Governo Federal.